Cap. 6 - Vivendo e Aprendendo

Capítulo 6 - Formatura




A segunda-feira chagou rápido e a semana seguinte foi cansativa, mas breve, já que eu fiz duas provas todos os dias e fui embora em seguida. Já que o professor de Educação Física estava ocupado, treinando os jogadores pras  finais do campeonato, e eu (como boa sedentária que sou) não faço parte das líderes de torcida, que também ficaram treinando, saí logo depois das provas, antes mesmo do almoço.
A semana toda foi uma agitação, já que o baile de formatura é hoje à noite, todos arrumando pares e decidindo como combinariam as roupas. Eca! Camily, a organizadora e responsável pelos formandos, veio todos os dias me perguntar se eu havia mudado de ideia e se já tinha um par. Neguei entediada, todas as tentativas dela de arrumar alguém pra me acompanhar.

Hoje, sábado, de manhã foi a cerimônia de formatura, onde todos subimos no palquinho, pra cumprimentar o diretor, os professores e receber um canudo vazio, eles sempre entregam o diploma depois. A representante, Samantha, fez um discurso um tanto ingênuo em relação ao futuro e então pude ir embora. O baile começa às 20h, ou seja, em 4 horas, e eu ainda não sei se vou ou não. Whitney tentou me convencer a ir, dizendo coisas como "Se não for ,vai se arrepender" ou "Só há um baile de formatura, não desperdice sua única chance". Eu bem sei que ela estava exagerando, já que o baile de formatura na faculdade é muito mais foda que o da formatura na escola. Vou ou não vou? Eis a questão.Acho que vou falar com a Taliah, que é um ano mais velha que eu e Abby.

– Hey, docinho. Como vai? – ela atendeu, sorridente, minha chamada de vídeo.

– Bem. E você, Liah?

– Ótima. Arrumei um emprego de férias. – contou entusiasmada.

– Que legal! Eu parei de trabalhar no café assim que consegui a grana pra viagem. – rimos.

– Então, por que ligou? – questionou e me lembrei do porquê de precisar de sua ajuda.

–Ah. É que meu baile de formatura vai ser em algumas horas e eu não sei se vou. Você foi ao seu?

– Sim, foi incrível. – respondeu expandindo seu sorriso contagiante. – Perdi minha virgindade naquela noite, claro que ele era um babaca, mas foi legal. – disse despreocupada. – Você deveria ir.

– Mas eu quase não falo com aquele povo. Estou com medo de me sentir deslocada e desconfortável. – confesso à ela.

– Deixa disso, pão de mel. Vai, aposto que vai ser ao menos divertido. – me assegurou. É, a Liah adora me chamar de nomes de doces ou de docinho, ela é muito meiga e está sempre sorridente, contagia as pessoas com seu carisma e tranquilidade. Ela vive de forma tão leve que me inspira
.
– Nem roupa eu tenho, de qualquer forma.

– Isso não é problema, te mando uns vestidos pelo correio – riu.

– Haha, ajuda muito, manda sim. – ironizei.

– Vai ao shopping escolher um vestido, eu te ajudo – se ofereceu.

– Ah, claro. Se esqueceu de que estamos com o oceano entre nós? – fui irônica, mas logo lembrei que estávamos tão distantes uma da outra que fiquei cabisbaixa.

– Acha que isso é um empecilho? E pra que existe a tecnologia, então? – fez um olhar de indignação. 

– Se arrume e siga pro shopping mais perto! Já! Em 15 minutos te ligo e espero que já esteja com o primeiro vestido pra provar. Tchau, torta de morango. – mandou um beijinho estalado e quando vi que ia apertar o botão de desligar falei:

– Espera!

– O que foi?

– Torta de morango? Jura? – ri.

– É. To com desejo de torta de morango. – sorriu e eu emudeci.

– Desejo? Isso quer dizer que...

– Não! Claro que não!

– Taliah! Me explique isso!

– Torta de morango, depois falamos. – deu um sorriso sapeca e vi ela acabar a chamada, a tela do meu celular ficou preta e depois veio o aviso Chamada de vídeo encerrada. Como se eu já não soubesse. Mesmo curiosa fui tomar um banho e me trocar, menos de 15 minutos depois eu já estava indo (de ônibus) ao shopping, em meu jeans surrado, all-star que já foi branco e camiseta vermelha com o trecho de uma música escrito em branco.

Entrei na primeira loja de vestidos que vi e depois de escolher um preto básico que ia um pouco abaixo do joelho, Lia me ligou.

– E então? – falei, depois de lhe mandar a foto do vestido em mim.

– Que péssimo, Maddie! Parece uma freira. Tsc Tsc Tsc. Nada disso. Vamos falar por vídeo. Te ligo em 1 minuto.

–  Ok. –  murmurei depois de ela já ter desligado o telefone.

Como prometido, ela me ligou exatamente um minuto depois. Ficamos a tarde toda conversando e decidindo o vestido, revezando entre chamadas de vídeo e mensagens e fotos no whatsapp.

Por fim, ela escolheu um vestido vermelho, mas num tom mais escuro, quase vinho. O vestido se mantém justo até pouco antes do joelho e então se abre volumoso na parte de baixo. É lindo, mas eu achei um pouco extravagante. Ela disse que é bobeira minha e talz, mas ainda acho exagerado. Ela que achou aquele primeiro de freira, me escolhe um que chega até o pé. Ai ai. Garota louca. Mesmo que seja tomara que caia e um tanto sexy.

– Maddie, falta o sapato!

– O que? Até parece que, depois de gastar uma nota neste vestido, ainda vou comprar mais coisas.

– Como assim? Ainda falta o sapato, a manicure, o cabeleireiro, a maquiagem. Ai, ainda falta tanta coisa!

– 1° Eu já tenho um sapato pra usar, 2° Eu mesma pinto minhas unhas, 3° Que eu me lembre, ainda sei pentear o cabelo sozinha e 4° Eu odeio maquiagem, o máximo que conseguirá de mim é um gloss transparente.

– Mas... – ela começou, mas eu a cortei.

– Nada de mas. Até depois, tchau.

– Ok, tchau Maddie. – ela fez uma careta e desligou. Será que ela ficou chateada? Bem, não há motivo.

Cheguei em casa e entrei correndo no chuveiro. Já estou atrasada! O baile começa em meia hora e eu ainda nem tomei banho, e ainda preciso me arrumar. Não que eu me importe muito, mas não quero aparecer lá desleixada, dando a minha recém adquirida inimiga o prazer de estar mais arrumada que eu. Nossa, eu ,que nunca fui nem de amigos, agora tenho uma inimiga. Uh, eca. Tô até tentando parecer melhor que ela. Tenho que parar com isso.
Ainda perdida em meus pensamentos, me troco rapidamente e enquanto penteio o cabelo olho pro relógio. O baile já começou. Hm, unhas! Ufa, ainda estão intactas e certinhas, já que as fiz ontem à tarde. Cabelo, coque desfiado. Até que tá legal. Maquiagem, rímel e gloss. Ótimo, dá pro gasto. Jogo um sobretudo por cima do vestido e sigo em direção às escadas.

– Você vai sair, Maddie?

– Não, Peter, eu gosto de me arrumar pra ficar em casa. – falo irônica descendo as escadas e ele sorri cínico.

– Ok, se é assim, não precisa de carona. Porque o Maison saiu. – alargou o sorriso e eu fechei a cara.

– Hm – murmurei e sorri de canto – Você me leva, né?!

– Claro, por que não? É só você falar... – sorriu, dessa vez se divertindo. E às minhas custas!

– Tá! Por... Porfavor.  – falei rápido e de uma só vez. Sempre que meu pai quer tirar uma com a minha cara e diz que só me faz algo se eu disser "As palavras mágicas". Mas eu sei que na real ele só quer me ver implorar, quer se sentir superior. É, minha gente, esse é o cara que me botou no mundo e criou, devo ter puxado a minha mãe. Não que seja muito reconfortante.


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